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terça-feira, 15 de março de 2011

Homem quase ideal



Por que idolatrar a figura de um homem ideal, se nem sempre, esse modelo corresponde a impressão de um homem real? Um homem de cara lavada, com seus conflitos internos, que mostre sua humanidade sem pudor e sem vergonha. Esse é o homem real. Numa forma humana e despido de seus preconceitos e fantasmas. Falo das contradições do homem movido pelos desejos e de suas ligações amorosas. Um homem que se aproxime da realidade, sintonizado com suas necessidades e tendo consciência plena de seus limites. Essa personalidade que descrevo, não tem medo de errar, ele não se encaixa com a figura do homem perfeito e não se enquadra num mural tradicional.. A figura do homem ideal, ainda tem uma projeção equivocada que vem dos velhos tempos de nossas bisavós, avós, mães e arrisco até dizer nossas filhas, que buscavam e buscam na figura do homem a segurança ilusória da "força masculina", que se perpetuou durante séculos, na imagem do patriarca e "chefe de família". Um homem estereotipado, que até hoje veste a máscara da virilidade, um conceito deformado de um ser humano "impecável" e "forte", um patriarca que servia de exemplo, mas que na verdade, camuflava suas fraquezas e seus desejos mais secretos, com as prostitutas ou as amantes de plantão. Infelizmente, talvez com outra roupagem, isto ainda aconteça nos dias atuais A infidelidade masculina não se esconde atrás de uma condição psicológica de auto-afirmação machista ou narcisista, buscando sempre se acercar de aventuras, conquistas e de salientar o seu poder sexual. Seria simplista demais essa explicação. 

Existe no homem, uma fronteira a ser ultrapassada, talvez por culpa de uma formação cultural indugente, ou seja, um conceito perverso do senso comum que "homem é sempre homem", e que portanto, "pode tudo", gerando na personalidade masculina a sensação falsa de poder e a consequente incapacidade de suportar e assumir as crises de sua força no fracasso de um relacionamento, preferindo se esconder por trás de uma miragem chamada mentira e infidelidade. Mas, ainda bem que existe o homem moderno. Este com certeza não precisa ser regido por falsos valores, para afirmar e confirmar a sua masculinidade. Pois o corpo e as atitudes são dirigidos pelos desejos e pelo coração, sem qualquer contaminação por preconceitos de origem patriarcal. São capazes de encontrar satisfação sem a necessidade de se justificar ou mentir, pois sabem que, para assumir sua condição humana, é necessário entender-se como imperfeito. E não mais como "impecável". Aquele que não falha ou erra. Existe o homem que é capaz de assumir seus conflitos afetivos e suas fraquezas, e ainda encontrar uma resposta diferente que não seja o velho vicio de enganar-se a si mesmo e a sua companheira. No entanto, ser um homem moderno não significa rejeitar as tendências dos valores éticos que nos cercam, mas saber como estes valores possam ser utilizados para satisfação pacifica de nossas necessidades. Ser homem não é se justificar em cima de mentiras, se submetendo ao ridículo de ser flagrado em suas próprias armadilhas de infidelidade. É assumir uma atitude de coerência e lealdade com seus conflitos em relação aos desejos e sentimentos, buscando o melhor para si e para quem está ao seu lado. 


E isto requer lidar com a decisão de rejeitar ou ser rejeitado, sem que a incompatibilidade se torne uma questão moral e passional. O fundamental é ter independência, seja quais forem as tendências de pensamento, sensação de prazer e sentimento. A prioridade como homem, e isto eu tenho consciência plena, é sabermos manifestar nossas necessidades, de maneira franca e aberta, da melhor maneira possível, assumindo nossos decisões e atitudes, mesmo que isto contrarie aqueles que nos amem. As mulheres, hoje em dia, já fazem muito bem isto. Pois preferem renunciar a relação lealmente, quando o amor já não se faz mais presente. A maior deslealdade é sermos infiéis com nossos desejos mais íntimos. E a pior delas é fingirmos, aos olhos de quem nos ama, o que não somos capazes de ser. Ou amamos ou não, eis a questão. E isto precisa ser muito bem colocado. E fazer de conta que não existam crises, é romper com o que há mais sagrado em ser plenamente homem: a liberdade de escolha. Somos únicos, e cada um tem sua projeção de amor e existência. Está na hora de o homem ser livre, sem se justificar no chauvinismo da deslealdade. E não ter medo de sermos diferentes das mulheres, mas que elas saibam quais são as nossas diferenças. É preferível e mais inteligente, dizer a verdade, do que submeter-se a julgamentos que questionem seu caráter e sua idoniedade. Então, viva o amor livre. A mais clara e trasparente forma de sentir o ser humano sem máscaras...


Texto de André Prado

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